ciclocross

O ciclocross foi “inventado” por ciclistas europeus de estrada para manter o seu condicionamento físico durante o outono e inverno, onde as provas eram raras. Se analisarmos as provas de mountain-bike a partir dos anos 90 veremos que os norteamericanos (supostos inventores da modalidade) já não são os dominadores: os europeus vencem quase sempre. Isso não aconteceu porquê os europeus “pegaram a mão” da modalidade rapidamente: no fundo, o mountain-bike é o neto do ciclocross.

As pistas de ciclocross diferem das pistas de crosscountry principalmente no quesito pedras: é difícil encontramos na primeira trechos pedregosos. Obstáculos frontais do tipo raízes ou degraus também são raros. É muito mais comum longos trechos de grama, descidas muito íngremes, pequenos cursos d’água, muita lama e ladeiras escorregadias. Obstáculos não naturais também são comuns, em geral troncos colocados em medidas exatas que impedem que os corredores passem pedalando (usando a técnica “bunny jump”): o negócio é descer e correr. Aliás, é nesse momento que a técnica de descer e subir na bicicleta em movimento é utilizada.

A bicicleta utilizada na modalidade é um misto de mountain-bike e road bike. Tem aspecto de uma speed (reforçado pelo uso do guidão curvo), usa pneus aro 700 e freios cantilever para evitar o acúmulo de lama. O triângulo traseiro costuma ser mais largo que as road bikes para que seja possível o uso de pneus mais grossos (a escolha das saliências depende muito do tipo do terreno).

As marchas são feitas através de STI´s e não se utiliza suspensão, já que choques frontais praticamente não existem (não existe raízes, buracos ou pedras) e a leveza é ponto crucial devido ao constante desce-carrega-sobe-pedala. Uma curiosidade e cuidado para o dia em que você experimentar uma dessas bicicletas; normalmente o freio traseiro está ligado ao manete esquerdo: é para facilitar o desembarque em movimento (o ciclista passa a perna direita por trás do selim enquanto o pé esquerdo ainda está clipado colocando a mão direita no tubo superior para preparar o carregamento. Com a inversão dos freios e mais fica fácil controlar a velocidade sem o risco de travar a roda dianteira e levar um capote). E os canhotos? Descem pelo mesmo lado, na direita da bicicleta ainda está o pedivela, lembra?

Os praticantes do esporte costumam dizer que é muito fácil identificar um novato numa prova: ele estará pilotando uma mountain-bike (pelo custo e estabilidade). Esses “cachorros velhos” afirmam que mountain bike é somente para passear na pista 🙂

Agora um pouco de história:

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Em 1924 foi realizada a primeira prova do Critérium Internacional de Ciclocross. Esta corrida, no entanto é considerada como uma prévia para o campeonato do mundo da modalidade. Internacionalmente é uma prova famosa, que ocorre num subúrbio de Paris (Bois de Boulogne). O primeiro vencedor foi Gaston Deggy, francês. Anos depois ocorreu a primeira vitória belga com Henri Moerenhout. Muitos dos ganhadores ao longo dos anos foram franceses. Porém, muitos corredores de estrada também venceram esta prova, como é o caso de Sylveer Maes ou Georgess Ronsse.

Gaston Degy
Gaston Degy

No ano de 1950 a UCI decidiu organizar o campeonato do mundo depois do Critérium, com um vencedor oficial e seu respectivo maillot e medalha.

O primeiro campeonato do mundo, em 1950 manteve a tradição ganhadora dos franceses. Jean Robic foi o primeiro campeão do mundo, mas seu compatriota Roger Rondeaux foi o dominador durante os primeiros anos da década de 50. O formato do campeonato não mudou muito: era organizado anualmente, cada vez em um país diferente, a principal diferença do Critérium que era sempre realizado na França. No final da década, André Dufraisse assumiu o posto de principal corredor: ganhou o campeonato 5 vezes e subiu ao pódio em 11 oportunidades. Mesmo assim, em 1959 o mundo conheceu o primeiro campeão não francês: Renato Longo, um italiano quebrou a hegemonia francesa.

Jean Robic
Jean Robic

A década seguinte mostrou uma mudança no panorama internacional com vários campeões de países diferentes. A popularidade da modalidade aumentou e os contatos entre os países também. O italiano Renato Longo e o alemão Rolf Wolfshohl dominaram a primeira metade da década mas encontraram um adversário formidável na pessoa de Eric De Vlaeminck. Este foi o primeiro belga a ser campeão mundial e o responsável pela popularidade do esporte no seu país.

Eric De Vlaeminck
Eric De Vlaeminck

Nos anos 70 as provas continuaram sob o domínio de Eric De Vlaeminck, com Wolfshohl e Van Damme como seus maiores adversários. Também o irmão de Eric, Roger (El Gitano), ganhou um título de campeão do mundo. Foi a década que os holandeses aprenderam a divertir-se com o esporte e ganhar popularidade nos países baixos. No final da década, um suíço chamado Albert Zweifel apareceu para estragar a festa de De Vlaeminck e Van Damme: venceu quatro compeonatos seguidos e tornou-se o homem a ser batido. Robert Vermerie, holandês, ganhou cinco campeonatos do mundo como amador, mas não conseguiu brilhar no cenário profissional.

Albert Zweifel
Albert Zweifel

A década de 80 deveria ser chamada a década de Roland Liboton. Depois de ganhar seu primeiro título mundial em 1978 como amador, dominou os anos 80: ganhou por quatro vezes seguidas. Foi também o nascimento do Superprestígio. Em 1982 quatro organizadores de grandes provas de ciclocross criaram uma pontuação final nas suas provas, convertendo-se na competição mais importante do ciclocross. Durante esse período os belgas mandaram na modalidade juntamente com o holandês Hennie Stamsnijder. Porém, no mundial, o vencedor normalmente era um corredor estrangeiro a ser o vencedor, como Thaler, Zweifel ou Richard.

Roland Liboton
Roland Liboton

No final do século 20, não houve um nome que dominasse o ciclocross mundial como nas décadas passadas: havia um domínio por um ou dois anos e logo aparecia outro corredor para substituí-lo. Muitos corredores ganhavam todas as provas do calendário mas falhavam no mundial. Nessa mesma época aparece a Copa do Mundo, uma série de provas que pontuam para uma classificação final da UCI. Atualmente essa é a competição mais importante do ciclocross, e é a forma mais correta de verificar quem é o melhor corredor internacional, já que o Campeonato do Mundo ou o Super Prestígio é uma batalha entre belgas e holandeses. É nessa mesma época que surgem os grandes patrocinadores e as equipes, trazendo mais estabilidade financeira para os atletas, marcas famosas e grandes equipes.